sábado, 30 de julho de 2011

Estar...

Já é de manhã, e os primeiros raios invadem o quarto atravessando as claras cortinas da janela, e as brechas que deixavam enquanto o vento batia. Não se sabe por qual razão ele ainda está dormindo, talvez por causa do dia cheio que teve ontem, ou porque o peso do seu mundo está realmente demais, depois de uma pequena reunião.
Seus olhos não abrem para ver o sol lhe sorrir. Seu corpo perece com o coração sangrando a todo instante, vertentes carmesin, jorram sem parar.
A cama ainda é a sua única amiga, ao contrário de seu próprio orgulho que lhe traiu. Foi um duro golpe, jamais pensara passar por situação semelhante.
Todos os dias ele acordava sorridente, cantarolando músicas a muito esquecidas, ou esquecidas por muitos, o espelho era sua primeira companhia pela manhã. Logo depois o chuveiro, a toalha felpuda que lhe envolvia parte do corpo. Hora de se arrumar, o que vestir? Em seu armário os mais finos paletós, calças, camisas, gravatas tecidas a fios de lágrimas, e sapatos de pele humana.
No conforto de seu mais novo automóvel, tomava rumo a mais um dia de trabalho, e todo o dia, era a mesma correria com coisas e pessoas diferentes. No fim do expediente uma passadinha no bar pra tomar um vinhozinho ou uma cerveja com os amigos, não podia faltar, depois de um dia daqueles.
Sempre que retornava para casa sua cabeça era tomada por perguntas e dúvidas, no sinal o vermelho não fazia só parte do semáforo, mas compunha um pedaço de um cenário, onde possivelmente acontecera um acidente, ou um assassinato. Os outros carros permaneciam com os vidros fechados, dentro deles, o medo era passageiro certo. Lá fora, alguém se arriscava embaixo do sinal, tentanto ganhar alguns centavos, mesmo ali o medo se fazia presente, mas a necessidade falava mais alto. As sombras do terror sobrepunha aquelas almas que andavam pelas calçadas, e atravessavam as faixas de pedestres. Não demoraria muito para que se ouvisse a sirene de uma ambulância pedindo passagem, naquele trânsito terrível.
O filme passa repetidas vezes, a semana inteira, o seu único break era o trabalho que ainda sim lhe trazia a mente o que teria de ver depois de seu expediente.
Sorrisos, aplausos, e sucesso de carreira, haviam os invejosos, os interesseiros, os amigos, e os inimigos declarados, os profissionais éticos, mas algo já estava ficando demais. Ele estava ficando louco?
Não. Ele estava ficando cansado de tudo aquilo.
E agora? Em quem confiar?
No serviço, dona Maria lhe traz aquele cafezinho agradável, ele agradece, pega a xícara, toma um gole e depois coloca a sobre a mesa. Uma morte instantânea da realidade, o levou dali, quando retornou, seu café estava frio. Ao sair da sala, a escada já não era a mesma, cada degrau parecia um abismo, e o corremão um verdadeiro pau-de-sebo.
Naquele dia ao entrar no carro, sentiu algo diferente, era como se tivesse alguma coisa ali, mesmo assim tirou o carro do estacionamento e se foi, na rua o primeiro susto, um motoqueiro vem correndo e por pouco não se trombam, o cara sai dizendo cobras e lagartos, e continua. Ele também segue seu rumo, perto do semáforo como de costume as pessoas aceleram quando avistam o amarelo, como ele não tinha esse costume, ouviam-se os buzinaços, só que aquele dia o colega de fila era bem maior, e vinha com toda vontade, e não tinha pra onde correr senão acelerar também e correr o risco de passar no sinal vermelho, e mais outros susto, ele para o carro, respira fundo, e logo adiante vem a polícia numa perseguição a um carro, onde os pilotos acabara de roubar uma casa, ainda assim seguiu seu caminho, ao chegar em casa, as notícias do jornal mostram que a justiça está cada vez mais míope.
Ele vai para o banheiro, e nem se olha no espelho, as perguntas não param, tantas coisas aconteceram e ele já não sabia mais nada. E sua infância lhe bateu a porta, as lembranças de uma casa alegre, um lugar simples e humilde, longe de todo o barulho e movimento que havia na cidade. Derepente aparece um menino e em uma das mãos trazia um carrinho de madeira, com rodas feitas de chinelo velho, na outra um pedaço de pão caseiro, que acabara de sair do forno, logo depois da porta o cachorro não parava de latir e o gato estava preguiçosamente deitado em uma galha de árvore, era cedo, o sol estava aparecendo, a casa encheu de gente, as borboletas tomavam conta do jardim perto da janela, num instante o sol já estava se pondo, o garoto saiu correndo em direção de um morro para não perder aquele instante precioso. Ele acordou, e se viu nu no banheiro de sua casa, chorando como um menino... Esqueceu todo o seu ritual e foi deitar... Esperando o próximo dia...

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