terça-feira, 14 de agosto de 2012

Tô indo meu bem!

E o tempo vai passando e você chega na cidade, morrendo de saudades da família, parentes, amigos e até mesmo daqueles vizinhos inoportunos e chatos. É impressionante como sua presença logo atrai a pergunta. - "E você, já casou?"
Daí, vem aquela risadinha disfarçada com uma resposta que não atende a expectativa do seu questionador e da platéia curiosa. "Não".
Tudo bem que a gente sempre espera perguntas como, "Você está bem?, Qual será seu próximo curso?, Já pediu promoção?, Pretende ir embora para continuar os estudos, fazer pesquisas?... Mas é tão automática a tal pergunta, quanto a sua reação, ainda mais se você não tiver nem mesmo paquerando.
Em alguns momentos, você até aproveita disso pra falar das suas expectativas na vida profissional, e do quanto está feliz nos estudos e na sua carreira, de suas pretensões perto daquela vizinha linguaruda ou daquela mulherada que não tinha nada mais o que fazer e ficava falando da sua vida. Tinha uma "preocupação" de ver você se ferrar em um relacionamento falido, que agora suas queridas filhas e seus preciosos bebês estão casados ou grávidas. 
E constantemente estamos conhecendo pessoas e pessoas, sejam elas interessantes, curiosas, misteriosas brincalhonas, chatas... todas com algo especial. Mesmo aqueles que tem cantadas mais baratas que o troco em balinha que você pega no supermercado. Ou que se jogue no cara mais que pernilongo chato.
Alguém vai dizer que você vai envelhecer e ninguém mais vai te querer. Onde estamos? A época em que se dava uma menina de 12 anos em casamento já não acabou?
O fato é que se você pensar muito, mas muito bem, provavelmente não se case. Como solteiro já te custa caro, é mercado, estudos, saúde... quer mais? Daí vem a gravidez. Muitos dizem que é lindo. É só assistir um parto normal pra você ficar apavorado.
Não tenho absolutamente nada contra o casamento, muito pelo contrário, pretendo me casar algum dia, ainda mais que descobri que uma pessoa pode se casar com ela mesma. O duro vai ser descobrir que você se traiu olhando pro lado, nesse momento o mundo deve desabar na cabeça.
Ah! Claro. Tem aqueles ainda que confundem sua situação com o fato de você provavelmente estar encalhada, ou que não quer nada sério, que só quer ficar galinhando.
Bem! Cada um é cada um. Sabe o que quer da vida. Todos nós temos um conceito, e óbvio que pretendemos busca-los.
No mais... tudo ao seu tempo.

domingo, 12 de agosto de 2012

Uma das lições


Durante quatro meses, por assim dizer, minha mãe passou por uns probleminhas, apesar de não estar totalmente recuperada, mas já estou muito feliz em poder olhar pra ela, e vê-la melhor. E depois do que passamos, eu aprendi tanta coisa, mudei meus conceitos sobre as pessoas. 
Interagir com médicos, enfermeiros, estagiários, internos, residentes, assessores, promotores, pacientes e visitantes, fez com que minha visão fosse modificada. Não é fácil acordar todos os dias dentro de um quarto de hospital, ainda mais quando alguém que a gente ama muito, não está muito bem. Em momentos assim, você aprende a não subestimar as pessoas, a ver que o conceito que você criou em torno de um "rótulo" que você mesmo fez para distinguir as pessoas, e precisam ser repensadas. 
Uma senhora, (não vou citar nomes), estava internada no Sta. Marcelina em PVH. A filha dela estava lá a quase uma quinzena quando cheguei. Quem olhasse para aquela senhora, logo dizia que era uma chata de galocha, ignorante e tal... Ela tinha muitos problemas de saúde, além da obesidade mórbida. Era chamada de chata, porque não permitia que médicos e enfermeiros chegassem muito perto dela. E sabe como funciona vida de estagiário né, a gente pega cada uma. Cada acadêmico do curso de medicina que aparecesse naquele quarto, ela logo tratava de espantar, com suas caretas, ou então mostrava língua quando a pessoa estava de costas. Até que um dia, um dos estagiários, que foi escalado para fazer o acompanhamento naquela semana, chegou no quarto para começar seu serviço. E claro que pra ela isso não importava, viesse quem viesse, ela faria o mesmo com todos. 
Mas o jovem usou de bom senso, e com todo respeito e educação conseguiu a autorização dessa paciente. Dias se passaram, e quando eu chegava no quarto, ela me olhava, observava, rigorosamente, mas fez amizade comigo. E conversamos por alguns dias, a respeito da estadia no hospital, das doenças que ela tinha, sobre a minha mãe, sobre o médico que atendia minha mãe, e rasgou elogios ao estagiário.
Logo, minha mãe recebeu alta e foi pra casa, mas acabou piorando e voltou, e aquela senhora já não estava mais lá. Depois de uma parafernalha, pedi a remoção da minha mãe daquele hospital. Quando chegamos ao Hospital de Base dentro de Porto Velho, conhecemos outras pessoas, e fizemos amizades. No segundo dia, recebemos uma notícia. Aquela senhora, havia morrido a uma semana. Foi um choque pra mim e para minha mãe.
E hoje fazendo um trabalhinho que vem se alastrando por uma semana praticamente, eu lembrei dela.  
Aquela mulher fez uma coisa que muitos de nós talvez não faríamos nunca, por medo. Ela já sabia que a morte estava perto, e no hospital ela sempre dizia, que só queria ir embora para morrer em paz na sua casa. Lá, ela chegou a sonhar que estávamos almoçando, e conversando na área da casa, rindo e brincando. Ela queria mesmo que fossemos pra lá. Lembro ainda, que antes dela sair do hospital ainda me disse que o estagiário que a atendia, seria um médico muito "porreta". Eu ri. Não por ser indiferente ao rapaz, mas sinceramente, é que eu me sentia um pouco sem jeito de chamar uma pessoa que tem quase a mesma idade que a minha, de Doutor. Agora nem tanto, afinal, estou na luta para ser uma doutora em comunicação.
Numa conversa, descobri que ela estava muito triste, seu filho se envolveu com uma mulher, que só fazia a cabeça contra a mãe dele. Além disso, ela abriu mão de um grande amor, para não vê-lo sofrer com sua morte, era o que ela menos queria. Pensava em sua filha que estava ali a todo instante com ela, que deixou o marido, a sua vida lá na cidade pra ficar ali com ela. Na volta pra casa, ela queria avisar a gente que estava indo embora, mas deu problema no celular. Em casa ela pensava em muitas coisas, principalmente na minha mãe, e na situação dela. 
Já estava tudo resolvido, na mesma em que fomos para o HB, ela voltaria na outra semana para passar com o médico. Cansada do dia longo, ela se deitou e foi dormir, tranquila. Durante a madrugada, sua filha se levantou para dar o remédio. Ao chegar no quarto percebeu que sua mãe, estava muito quieta. Chamou-a, mesmo assim, nenhuma reação houve. Ao tocar no braço da mãe, percebeu que estava fria. Já, não restavam dúvidas. Ela  tinha morrido
Eu não sei bem o que aconteceu depois, mas, cada vez que falo com o estagiário que a atendeu, que inclusive fazia o acompanhamento da minha mãe também, eu lembro dela. Da pessoa que era. Que mesmo passando por tantos problemas, encontrou forças para viver, e poder realizar seu ultimo desejo de morrer na paz de sua casa. Uma mulher que não tinha estudos, pois seu pai era daqueles bem tradicionais, que diz que mulher não precisa ir pra escola. Passou por muitas dificuldades, e ninguém a entendia. Criou um mecanismo de defesa. Que só conhecendo a sua história, entenderia o porquê.
Embora eu não possa conhecer todas as pessoas, o que se passa na mente e no coração delas, só desejo poder ter sabedoria o suficiente para compreender tudo que está ao meu redor, e poder agir de forma correta.